quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Em Caratinga encontrei amigos que eu não conhecia

                        Gilvan Vitorino C. S.
(Estive em Caratinga, no fim de agosto, para ministrar um treinamento sobre a Lei de Execuções Penais e demais direitos do preso e direitos dos que lhes prestam assistência. Dialoguei com os da Pastoral Carcerária de algumas regiões de Minas Gerais.)
Tenho desfrutado de um prazer, singelo prazer; como faço, fica até bem franciscano. Diariamente, tenho tomado meu café da manhã em padarias. Aqui pertinho existe uma, em Jardim da Penha: café bom, geralmente acompanhado de broa caxambu, evitando a manteiga. Pena que, em se tratando de café comum, aqueles feitos com coador de pano, às vezes sai meio ralo.
Pra mim, tem sido uma das melhores refeições do dia.
Com prosa é sempre melhor, mas é difícil um acordo sobre o horário. Então, tem sido sozinho quase sempre. Se bem que penso em tanta gente nesta hora que em geral estou deles acompanhado.
Em Caratinga, MG, terra de Agnaldo Timóteo, existe uma pracinha, pequenina praça, mas bem simpática, com uma estátua dele. Cheguei e fui logo procurando uma padaria. Era uma tardinha de sexta feira...
Cheguei pela BR 116. Se passasse direto, teria pensado que ali pouco haveria de bom. Mas, padaria me convidou para entrar.
Estacionei e perguntei por uma.
- Logo ali, é uma das melhores padarias daqui – informou um morador.
Fui lá, bebi 02 xícaras de café e comi 01 saborosa broa de fubá e 01 sonho.
Voltando para a hospedagem da igreja que acolhia o encontro da Pastoral Carcerária, vi a praça de Caratinga. A praça e a bela igreja, a catedral. Ambas são belas, imponentes, imponentes pela beleza.

                                                                                        Praça em Caratimga - MG

                                                                       Catedral em Caratinga - MG
Neste mesmo dia, já de noite, fui apresentado aos militantes que pelejam em favor dos direitos dos presos, os agentes da Pastoral Carcerária mineira – gente de Mariana, Caratinga, Ipatinga, Conselheiro Pena, terra da minha mãe, Governador Valadares, etc. E logo fui falando que nossa luta é contra a prisão, e que no futuro nos lembraremos – ou os que vierem depois de nós se lembrarão – com tristeza de que um dia seres humanos aprisionavam seres humanos.
Minas já havia me dado conhecer um grande sacerdote, um grande profeta, um padre – que é já meu amigo. Dessa vez, dentre outros, deu-me um Frei... Vi logo que se tratava de um amigo que eu não conhecia.
Esse povo da Pastoral Carcerária é de luta. Gente de muita idade, de meia idade, de pouca idade. Gente simples, gente de muito conhecimento. Gente tímida, gente desembaraçada. Todos, gente de luta. Eu os chamei e tenho chamado de “aqueles que vão à toca dos leões”.
No sábado, no início do curso sobre LEP – Lei de Execução Penal -, mostrei-lhes a homenagem que lhes fiz (a todos da Pastoral Carcerária brasileira) na minha dissertação de mestrado. Lá, pode-se ler:
Aos que vão aos seres carentes e solitários, lá dentro na toca dos leões. A eles que vão lá enxugar-lhes as lágrimas. Todos eles, muitos dos quais militantes da Pastoral Carcerária.
Falamos de muita violência contra os presos; falamos dos direitos dos quais não desfrutam, pois o sistema prisional insiste em tratá-los como se fossem sujeito de menos direito. Percebi que o tema do uso indiscriminado de algemas teve grande apelo. Ao mostrar-lhes a Súmula Vinculante n° 11 – do STF -, percebi que ficaram surpresos e empolgados, pois não lhes parecia que um sujeito já tão avacalhado como o preso estaria amparado por um texto normativo como este.
Aprendi muito com eles. Cada um me dava informações de muita utilidade.
                   Amigos aprendendo e ensinando a militar contra a violência das prisões 
Ah,Caratinga, que me permitiu encontrar amigos desconhecidos.
No domingo, já voltando, era tanta minha alegria que precisei ligar para um amigo de Vitória para falar um pouco do ocorrido no fim de semana.  Antes de sair da cidade, no entanto, tornei à padaria para me despedir dela. É verdade que se trata de uma muito aprazível padaria, mas, acho que ela não seria a mesma se, principalmente agora, nessa manhã de domingo, não estivessem dialogando comigo, na quietude da lembrança, aqueles amigos que até então eu desconhecia.
Fiquei de Domingo pra segunda em Caparaó, MG, terra dos meus avós, onde ainda tenho tios muito queridos. É uma boa terra, terra fria, mas de muito calor humano. Saí de lá por um caminho ainda não percorrido, mesmo depois de freqüentar Caparaó há tanto tempo... E o caminho novo foi generoso comigo.
                                                                                               Alto Caparaó - MG

                                                            Um simpática casinha no caminho de volta

Um comentário:

  1. Eu vou ir para lá...Na Caratinga esta meu amor...o garoto mais bello do mondo...Welington TE AMO.

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